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O novo papel do pai

Por Carla Oliveira *


O atual perfil da figura paterna, desenhado nas últimas décadas, não lembra em nada aquele modelo autoritário e ausente do passado. Ainda bem!

Até os anos 60, a sociedade era patriarcal, ou seja, o homem ocupava a posição de "provedor do lar": era ele quem trabalhava para sustentar a família e quem tomava todas as decisões importantes. Já a mulher era incumbida dos cuidados com a casa e com os filhos, sendo esta considerada uma função inferior. Em geral, os homens não demonstravam seus sentimentos em relação aos filhos, pois isso era sinal de fragilidade. Eles acabavam se tornando muito ausentes, e sua participação na educação dos pequenos se limitava apenas a dar ordens e impor disciplina.


Hoje em dia, felizmente, essa realidade mudou. O homem percebeu que criar vínculos afetivos fortes com seus filhos é extremamente positivo, não só para as crianças como para eles mesmos. Essa mudança se deve, entre outros fatores, à redefinição do papel do homem e da mulher em todos os setores da sociedade, que teve início a partir da luta feminina por direitos iguais aos dos homens e da entrada da mulher no mercado de trabalho.


Os pais de hoje choram no dia do parto de seus filhos, ajudam a trocar fralda, contam histórias, brincam, participam da escolha da escola e se emocionam com cada pequena conquista das crianças. E fazem isso sem nenhum constrangimento, sem achar que estão perdendo sua masculinidade. É claro que muitos homens ainda mantêm certa distância dos filhos, principalmente os que foram criados em um ambiente machista, mas isso já não é a regra geral - e sim a exceção.


"Participação e afeto fazem parte de uma educação saudável. Acredito que esta postura paterna terá um grande impacto nas gerações futuras tanto para o menino quanto para a menina, e os futuros adultos poderão ter um prazer compartilhado na educação das crianças, desenvolvendo um respeito mútuo", ressalta a psicopedagoga Maria Cecília Castro Gasparian.

A importância do pai

Apesar de estar mais afetivo, o pai ainda é responsável por dar limites e soltar as amarras dos filhos. A mãe tem uma tendência natural a proteger demais a prole, transmitindo-lhe valores como acolhimento e proteção. Já o pai estimula a independência dos filhos e corta o excesso de proteção da mãe. Seu papel é muito importante na construção da autonomia e da ousadia da criança. A diferença é que antes, a autoridade paterna era acompanhada do medo que as crianças sentiam frente a uma figura tão severa e distante. Hoje, esse processo ocorre de maneira mais saudável, já que os papais não se fazem entender apenas no grito.


O que não pode acontecer é o pai "amolecer" demais e se tornar muito permissivo. Quando isso acontece, as crianças acabam se tornando desobedientes, autoritárias e inseguras. Por isso, cuidado! Ser paciente, carinhoso e atencioso não significa abrir mão da disciplina. Dar limites é, também, uma importante demonstração de amor, já que sem eles os filhos ficam perdidos.


A participação do pai é importante também em muitos outros aspectos. Ele serve como modelo de comportamento para os meninos e também permite que as meninas conheçam e compreendam o universo masculino. Práticos, objetivos e racionais, os homens também podem mostrar às crianças uma nova forma de encarar a vida, diferente do ponto de vista feminino.


Não é preciso nem falar sobre o suporte emocional que a maior proximidade afetiva do pai representa para os filhos. Se amor de mãe já era bom demais, imagine isso em dobro! Um pai participativo e atencioso representa mais auto-estima, mais confiança, segurança e equilíbrio. Ele também serve como exemplo, contribuindo para que as próximas gerações superem definitivamente os preconceitos existentes na tradicional divisão do papel feminino e masculino na sociedade.


Não se deve pensar, entretanto, que uma criança que não pode conviver com o pai, por qualquer que seja o motivo, será necessariamente infeliz ou problemática. A figura paterna pode ser representada por um tio, um avô ou outro adulto do sexo masculino que participe ativamente da vida da criança. O importante é que exista esse referencial masculino.

Pai e mãe: rivalidade?

Como a participação masculina na criação dos filhos é um fenômeno ainda muito recente, é normal que surjam dificuldades e até mesmo conflitos. "Os homens, atualmente, ainda estão sob o efeito dessas mudanças. E toda inovação provoca dúvidas, incertezas, angústias e muita frustração. Na realidade, nem o homem e nem a mulher sabem ainda definir com precisão seus papéis e funções familiares", explica Maria Cecília.


A psicopedagoga revela que algumas mães, mesmo inconscientemente, não querem "perder" para o pai o amor e admiração do filho. Outras, não acreditam que um homem possa assumir essa responsabilidade e o tempo todo desqualificam qualquer tipo de ajuda que o pai queira dar quando eles se colocam à disposição. "O fato é que existe neste tipo de casal uma distribuição de tarefas e não um compartilhamento de atividades, ou seja, a mulher delega tarefas, mas não delega poder. Com isso o pai vai se afastando", explica.


As mulheres não podem esquecer que o homem tem um modo diferente de educar os filhos e que eles ainda estão muito confusos em relação ao seu papel. Muitas mulheres consideram os homens desqualificados para cuidar dos filhos. Aí, o que deveria ser visto como parceria está sendo encarado como rivalidade. Não caia nessa armadilha! Os pais querem ser reconhecidos em seu novo papel. Dê valor às suas atitudes, pois a família toda só tem a ganhar com essa participação - ainda que um pouco desastrosa a princípio!


"O homem deve criar ou descobrir o seu modo peculiar de criar as crianças, o que não pode ser confundido com incompetência. Diferente não que dizer deficiente, é apenas uma outra modalidade de estar junto e de olhar a criança, já que ambos os pais querem o melhor para a criança", destaca Maria Cecília. A psicopedagoga ainda ressalta que um dos maiores erros dos papais é não acreditarem que podem interferir positivamente na educação dos filhos. No entanto, eles possuem uma enorme qualidade: assumem que realmente não têm todas as respostas, mas mostram-se dispostos a colaborar para que a criança se desenvolva feliz.


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