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Sem medo de comer novidades
Por Flavia Schwartzman
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Você já passou pela situação de tentar "apresentar" seu filho a algum alimento e ele recusar? Relaxe, isso é normal. Aprenda a driblar esse problema!
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Quase que diariamente as crianças são introduzidas a alimentos novos, que nunca haviam visto antes. Nada mais normal, portanto, que tenham um certo "cuidado" antes de aceitá-los. Este é, na verdade, um mecanismo de defesa, pois elas ainda não sabem qual é seu gosto, seu cheiro e, mesmo, se a tal "novidade" apresenta algum perigo para elas. Por isso, o mais provável é que recusem a comida que lhes for oferecida pela primeira vez.
Esta reação tem até um nome: em inglês chama-se "food neophobia", que significa "medo do alimento novo". Estudos indicam que, por meio de repetidas exposições, a criança irá vencer esse "medo" e aceitar o alimento. Podem ser necessárias até dez tentativas para que a criança incorpore aquele novo alimento ao seu hábito alimentar.
A ordem é não desistir
Muitos pais se enganam e deixam de oferecer o alimento novamente, por achar que a criança não gostou e nem vai aceitar mais. Outros fatores, além do próprio sabor da comida, irão contribuir para que ela goste (ou não) de determinado alimento. A atmosfera e a maneira como ele é oferecido serão fundamentais para que haja uma boa recepção. Por isso, ao oferecer uma novidade, saiba que, provavelmente, não será "amor à primeira vista", portanto não crie muitas expectativas.
Ofereça o alimento novo junto a outras coisas que seu filho gosta e coma junto com ele. Lembre-se: o exemplo vale mais que qualquer palavra! Ofereça porções pequenas, próprias para a idade, para não sobrecarregá-lo. Deixe-o estudar, cheirar e cutucar a comida, pois é desta maneira que ele irá conhecê-la. Se provar e não gostar (ou achar que não gostou), não force, pois ele poderá associar esse alimento a algo ruim e provavelmente não irá experimentar mais.
Após alguns dias, ofereça novamente. Se a criança ainda não aceitar, não desanime. Insista de vez em quando, pois o importante é ela continuar tendo contato com o alimento à mesa. Dessa forma ela terá a oportunidade de ver outros membros da família comendo aquele prato e poderá prová-lo quando quiser.
Nem prêmio nem castigo
Alimentos não devem ser utilizados como suborno, recompensa ou punição, mas muitas vezes isto acaba acontecendo: "se você comer a abobrinha, pode tomar sorvete de sobremesa" ou "você só vai poder ver televisão se comer a verdura".
Estudos indicam que a criança acaba não gostando dos alimentos usados para obter uma recompensa. Elas associam o alimento que deveriam comer (legumes, verduras, por exemplo) a algo negativo e acabam desenvolvendo uma aversão a ele. Elas pensam: "esta abobrinha deve ser muito ruim ou não me fariam comê-la em troca de um sorvete, que é muito bom".
Pois é, as crianças são mais espertas do que a gente imagina... Do mesmo jeito, quando o alimento é oferecido como recompensa num contexto positivo ("agora que você já arrumou seu quarto, pode tomar o sorvete"), elas o associam a algo prazeroso e irão desenvolver uma preferência por ele.
O que ocorre é que os alimentos utilizados como recompensa geralmente são os doces, balas, sorvetes, batata frita, "mais gostosos", menos nutritivos e justamente aqueles que queremos evitar. E os alimentos pelos quais eles precisam ser "subornados" para comer são sempre os legumes e as verduras, "menos gostosos", mais nutritivos e que desejamos que eles comam mais.
Como fazer o milagre acontecer?
Ofereça várias vezes o novo alimento, num ambiente tranqüilo e sem pressão.
Se seu filho recusar, não discuta. Mas mantenha o alimento na mesa, coma, diga que está gostoso, pergunte se ele não quer ao menos experimentar. Garanta que está tudo bem, que da próxima vez ele come.
Aproveite para oferecer um alimento novo quando um amiguinho estiver presente na hora da refeição. Certifique-se de o amigo gosta do que você irá servir e ofereça aos dois. É mais provável que ele experimente, se vir o outro comendo e gostando.
Chame-o para ajudar na preparação do alimento. Dê a ele uma tarefa e cozinhem juntos!
Nunca suborne seu filho para ele comer determinado alimento.Você já viu que isso pode causar um efeito contrário. Não custa reforçar: se ele não quiser, não insista muito.
Dê o exemplo: é mais provável que as crianças comam o que os adultos também estão comendo.
E lembre-se de continuar oferecendo!
* Flavia Schwartzman é nutricionista, formada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, com especialização em Nutrição Materno-Infantil, Mestre em Nutrição pela Escola Paulista de Medicina.