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Trabalhe fora sem culpa

Por Monica C. Burg Mlynarz *


Passados anos desde que a mulher entrou no mercado de trabalho, um grande dilema continua atormentando as suas cabeças: como conciliar filhos e carreira?

Na virada do milênio, apesar de tantas transformações na vida das mulheres, que ocupam funções cada vez mais importantes nos diversos setores da sociedade, as questões relacionadas à culpa parecem não ter mudado de forma significativa. Ao refletir sobre o tema, penso sobre a dificuldade que a mulher tem encontrado para buscar um lugar de conforto em relação aos seus papéis de mãe e profissional.


Em que medida tem sido útil a idéia da exclusão, quando a mulher decide engravidar e sente - com freqüência! - que precisa abandonar suas atividades profissionais e pessoais como se não tivesse outra escolha? É bem verdade, que a sociedade não tem sido nada benevolente ou compreensiva em relação a esta questão. No entanto, sinto que cabe também à mulher encarar o fato de forma diferente e livrar-se das culpas.


Contudo, como conseguir esse novo lugar já que o conceito de como as mulheres devem exercer a maternidade é muito mais difícil de mudar do que parece? Acredite, ainda há muita resistência - da sociedade e das próprias mães - em abrir mão do papel materno "idealizado" - de não deixar faltar nada a seus filhos.

Uma experiência pessoal

Certamente posso dar um depoimento, pois tive quatro filhos, amamentei todos eles e continuo até hoje exercendo minha atividade profissional. É bem verdade que sempre tive boas ajudantes. No entanto, conforme as crianças cresciam, todos nós, juntos, íamos construindo um lugar de conforto para aprender a lidar com as ausências, limites, imperfeições, e aceitar o que era possível em cada situação. Era um dia após o outro construindo, passo-a-passo, o aprendizado das nossas emoções.


Viajando através dos tempos e olhando as fotografias das diferentes idades do desenvolvimento dos meus filhos, pergunto-me como será que dei conta de "quase" tudo, já que ninguém é perfeito!


Quando eles eram bem pequenos decidi trabalhar perto de casa, mas isso não diminuía a correria nas horas das mamadas quando, então, eu era avisada e interrompia o trabalho por um tempo. No início me enchia de culpas, mas descobri, aos poucos, que elas não me ajudavam de forma alguma nas soluções dos problemas do dia-a-dia. Eu precisava ter calma, pois, do contrário, iria ficar "louquinha" e tirar o sossego dos meus filhos.


Calma??? Fácil falar! Acreditem, mulheres, mães, parceiras de luta que, com cobranças em demasia, o estresse é quase certo e não resolve: só atrapalha - e muito - na hora de fazer escolhas ou tomar decisões.

A qualidade do tempo

Penso que um recurso de grande ajuda para lidar com a ausência, já que não há chance de estarmos presentes o tempo todo, é valorizar os momentos junto da família. Digo isso porque penso que uma grande maioria das mães que trabalham fora, em vez de aproveitar o fato de estarem presentes, acaba tendo comportamentos de superproteção ou excesso de permissividade para compensar a falta, que muitas vezes está muito mais forte em suas mentes do que na das crianças.


É fundamental perceber como cada criança elabora as ausências. Explico: se ela for uma "boa ausência", irá ajudar a desenvolver sentimentos de auto-estima, autoconfiança e senso de segurança no mundo, além de uma capacidade maior em lidar com as frustrações.


Queridas mães, eu as entendo perfeitamente! No decorrer dos primeiros anos vivendo o papel de mãe, o que eu sentia era um misto de ansiedade, dúvida, cobrança, saudades de casa e da convivência com crianças. Era preciso olhar e pensar de forma diferente sobre tudo isso.


Falando da presença, lembro-me bem de que ao chegar em casa muitas vezes já era hora do banho da tarde, da mamadeira e do momento de dormir. Era preciso lidar com as limitações da situação e participar intensamente do que era possível: dar o banho era uma delícia, o peito e a mamadeira muito curtidos e a música cantada na hora de dormir, então!

Palavra de filho!

Nunca me esqueço do discurso de meus filhos em momentos especiais: um deles foi da Tati, minha filha "temporona" e hoje com 16 anos. Ao falar sobre a minha ausência em determinados momentos de sua infância, privilegiou os ganhos recebidos ao comentar que aprendeu a ser independente por ter que se virar sozinha em diversas situações.


Fica, aqui, uma dica que certamente poderá acalmar você: procure se desprender das culpas e certezas e não interpretar quaisquer comportamentos de seus filhos como se pudessem ser explicados exclusivamente pela suas ausências. Esta forma de pensar e olhar para a situação traz mais angustias, mais culpas e cria fantasmas desnecessários.


Definitivamente penso que ser boa mãe não significa se concentrar tão intensamente nos filhos a ponto de desistir da própria identidade. Se as mulheres que foram educadas para participar ativamente da sociedade pararem de fazer isso, estarão arriscando seu senso de individualidade, sua satisfação e sua eficiência como mães.


É preciso ampliar as possibilidades de convivência no nosso mundo; urge construir novas formas de maternidade e paternidade, flexibilizar as condições de trabalho para que ambos - pai e mãe - possam encontrar um espaço para a vida familiar. Para evitar o isolamento desse núcleo, eles precisam criar redes familiares por intermédio de parentes, amigos ou babás que possam estar com as crianças quando eles, pais, não puderem.


Pensando a respeito deste tema tão delicado, gostaria de sugerir que mães e pais agissem com o coração e se ajudassem mutuamente no crescimento pessoal e paternal. Acredito que o maior desafio emocional de todos os tempos seja modernizar nosso conceito antiquado de maternidade. É uma mudança difícil, mas plenamente possível se todos nós estivermos verdadeiramente empenhados!!!

Até breve!


* Monica C. Burg Mlynarz é psicóloga clínica com especialização em Psicologia Educacional e Terapia de Família.


Comentário:    
       
florenciosantos 08 de November de 2010 | 17h 25

Em minha opnião todas as mulheres deveriam ter atividades fora de casa e deveriam fazer isto sem culpa.
É impressionante a capacidade que a mulher tem de cuidar da família e também de sua profissão. E detalhe, elas fazem isto com muito prazer.

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