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Estresse na academia
Por Luiza Helena Marcondes
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Mudança repentina de comportamento, dores pelo corpo e cansaço. Se o pequeno esportista já apresentou algum desses sintomas, é melhor diminuir o ritmo da atividade física.
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Competir e superar os próprios limites são os maiores desejos dos atletas. Contudo, exigir mais do que corpo pode dar, muitas vezes impede a recuperação total da estrutura muscular, provocando problemas sérios ao organismo. Mesmo os esportistas mirins estão vulneráveis à pesada carga horária exigida por algumas modalidades.
"A criança pode fazer qualquer atividade física desde que o seu desenvolvimento biológico seja respeitado, mas o excesso de treinamento, em qualquer idade, provoca o estresse físico", explica o especialista em medicina esportiva, Dr. Paulo Zogaib, de São Paulo.
De acordo com o médico, a atividade física está baseada na supercompensação. Em qualquer modalidade o atleta gasta energia, proteína, vitaminas, glicogênio, entre outras substâncias, e eleva a temperatura corporal. Após o treino começa a recuperação, quando o próprio organismo se encarrega de repor tudo o que perdeu durante o exercício. Para quem mantém um bom nível de condicionamento esse processo acontece de forma mais fácil.
Esse vai e volta provoca uma curva de progressão positiva do organismo, medida por meio de testes específicos. Ou seja, um bom preparo do atleta possibilita a intensificação dos treinos. Entretanto, se o médico detectar uma curva descendente, é sinal de que o organismo está estressado e que o tempo necessário para se recuperar não está sendo cumprido.
Efeito dominó
O resultado do excesso de treinamento são as lesões musculares. "Pode ocorrer em qualquer parte do corpo, tanto num tendão como no coração", alerta dr. Zogaib. Para evitar o problema, o melhor a fazer é respeitar a própria capacidade de recuperação, principalmente no caso do esportista mirim, cuja reposição de substâncias gastas durante os exercícios é menor.
Quando a sobrecarga física acontece, os sintomas não demoram a aparecer. O primeiro deles é emocional. De acordo com o especialista, há uma drástica mudança comportamental. "A criança fica muito irritada, tem distúrbios do sono, problemas intestinais e começa a se alimentar mal". Se seu filho passar a ter insônia, diarréia ou prisão de ventre, comer demais ou não ter fome, é bom diminuir o ritmo dos treinos.
A confirmação do estresse físico vem com as dores musculares. Elas indicam a sobrecarga do sistema locomotor. "Esse é o aviso mais evidente de que o organismo não está conseguindo se recuperar".
Todo o corpo pode reclamar. O sistema circulatório também dá sinais de alerta: a produção de adrenalina no sangue se intensifica provocando o aumento dos batimentos cardíacos, mesmo em repouso. "Um único desses sintomas já é indício de fadiga física. Em alguns casos é preciso, inclusive, interromper a atividade".
Infância prejudicada
Conforme o especialista, o estresse físico pode se manifestar em qualquer idade. Tudo depende do excesso de treinamento esportivo. As crianças, porém, são grandes vítimas da carga horária mal dosada para cada faixa etária. "O sistema anabólico infantil está imaturo porque não alcançou o pleno desenvolvimento dos órgãos sexuais". A produção de testosterona pelo organismo é muito baixa e dificulta a supercompensação do corpo.