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A cura através da música

Por Carla Oliveira * em 27/09/2004


A musicoterapia é aplicada no tratamento de inúmeros problemas e doenças, desde timidez até câncer. Entenda como ela funciona!

A música é capaz de despertar as mais variadas emoções no homem. Quem nunca chorou ao ouvir uma canção? Quem nunca foi tomado por uma melancolia repentina e sentiu alívio ao trocar o CD que estava tocando? Quem nunca aumentou o volume e começou a dançar, sentindo uma onda de felicidade percorrer seu corpo, quando uma música eletrizante tocou no rádio?


O que provoca essas reações é a forma como o organismo responde aos estímulos sonoros - e isso pode variar conforme cada pessoa. "A vibração sonora é transformada no ouvido humano em energia elétrica, pelo tímpano, e em energia química, pela cóclea. Então, quando o cérebro codifica diferentes melodias, pode enviá-las, através do neocórtex, para as moléculas do corpo", explica a musicoterapeuta Maristela Smith*.


A musicoterapia é a utilização da música para fins terapêuticos e baseia-se justamente na capacidade que a música tem de provocar estados de ânimo, entre outros princípios. "Tem-se descoberto que certas músicas e sons - os que trazem um significado para a pessoa que as ouve, as executa ou as cria - são capazes de desencadear respostas químicas do organismo, interferindo no estado geral e proporcionando, ao atingirem o sistema nervoso, uma desconcentração do corpo e um alívio da dor, pelo fato de obterem o equilíbrio nos neurotransmissores", afirma Maristela.


Além disso, a musicoterapeuta explica que os seres humanos são seres musicais desde a vida intra-uterina, porque possuem em si mesmos estruturas sonoro-rítmico-musicais, como a respiração e o batimento cardíaco. Existem pontos de encontro entre essas cadências humanas (a "música interna") e o pulso das canções e dos sons (a música externa). "Basta observar, nas partituras musicais, as referências que os compositores fazem ao andamento, quando se remetem a estados de espírito, como allegro ou vivace", observa Maristela.

Principais aplicações

A musicoterapia tem inúmeras aplicações e vem obtendo excelentes resultados principalmente com portadores de deficiências físicas (inclusive deficiência auditiva), síndromes genéticas (como a Síndrome de Down), distúrbios neurológicos (como dislexia e disfonia), doenças mentais (como autismo, depressão e esquizofrenia) e até mesmo câncer, durante as sessões de quimioterapia. Experiências revelam que crianças internadas em hospitais se recuperam mais rapidamente do que as que não são submetidas à musicoterapia.


A musicoterapia também é aplicada com sucesso quando há problemas de comunicação ou de relação familiar, timidez excessiva, hiperatividade, agressividade, obesidade e transtornos de linguagem, como a tartamudez (gagueira) e problemas articulatórios. "Há casos também em que, empregadas as técnicas da musicoterapia, houve resultados benéficos expressivos, como os de abandono e os de crianças molestadas sexualmente", destaca Maristela.


Na área escolar, crianças que apresentam distúrbios no ritmo da escrita ou da leitura são também beneficiadas com a musicoterapia. Alguns estudiosos afirmam que a música pode estimular o raciocínio matemático e a inteligência, mas ainda não há provas incontestáveis. De fato, segundo um estudo da Universidade de Heildelberg, na Alemanha, músicos profissionais possuem mais massa cinzenta na área do cérebro correspondente à audição.


"Nessa área do córtex auditivo, concentra-se também a memória verbal, que tem papel fundamental no aprendizado de matemática, línguas e ciências", explica Maristela. Mas, a musicoterapeuta insiste que ainda existe uma grande polêmica a esse respeito e é preciso ter cautela. O que acontece realmente, segundo Maristela, é que quando a música provoca prazer, o corpo reage com respostas psicológicas e neurológicas que são positivas para a criança e isso pode acabar influenciando o aprendizado.

Como é a metodologia

"Os procedimentos metodológicos para a realização de uma sessão musicoterápica seguem princípios semelhantes aos de qualquer outra terapia", explica Maristela. Num primeiro momento, são coletados dados a respeito da vida pessoal do paciente, para que seja elaborado um plano de ação musicoterápica, com os métodos e técnicas mais adequados ao caso. Cada sessão dura 50 minutos.


Segundo Maristela, o importante é que o recurso sonoro tenha algum significado para o indivíduo - tanto positivo quanto negativo - e pertença ao mundo do sujeito. "Não há receitas prontas de antemão, mas planos direcionados", afirma a musicoterapeuta. No atendimento a portadores de deficiência auditiva, a única diferença é o setting, isto é, o ambiente musicoterápico. O tratamento acústico das salas e o chão de madeira são imprescindíveis.


"Nesses casos, trabalha-se muito com a vibração sonora, desenvolvendo-se a noção de espaço e explorando-se a conscientização e independência das partes do corpo. Ouvimos não só através dos condutos auditivos, ou orelhas, mas através dos poros, da pele. Sendo assim, crianças com surdez ou diminuição da acuidade auditiva são capazes de se comunicar pelo som que não ouvem, mas sentem", explica Maristela.

Você sabia?

A carreira de Musicoterapia originou-se nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, a música era utilizada na recuperação dos soldados feridos. O primeiro curso de técnicos em musicoterapia foi criado em Kansas, em 1944. A carreira existe aqui no Brasil desde 1972, quando surgiu o primeiro curso para formar musicoterapeutas no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. A partir daí começou a ser aplicada em centros de deficiências física e mental e também em hospitais psiquiátricos.


Clique aqui para ler todos os princípios em que se fundamenta a Musicoterapia, de acordo com Maristela Smith.


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