Sexta-feira, 29 de março de 2024
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A fase passageira dos pequenos furtos

Por Adriana Mabilia *


Quando querem, as crianças conseguem dar um jeito de mostrar aos pais o que estão sentindo, mas nem sempre fazem isso por meio de palavras. Afinal, não é nada fácil lidar com elas. Então, recorrem a comportamentos estranhos, como pegar o lápis, a borracha

Você já abriu a mochila do seu filho e deu de cara com uma lapiseira, um brinquedinho ou outro objeto que não comprou e nem ele ganhou de presente? Ou então, já deu pela falta de alguns trocadinhos que jurava ter deixado na bolsa?


A primeira idéia que vem à mente é a de que seu filhote roubou, não é? Tranqüilize-se, pois o fato de seu filho levar para casa o lápis do colega ou pegar um ou dois reais da sua carteira, sem permissão, não quer dizer que ele esteja a caminho da delinqüência ou que seja um cleptomaníaco. Cleptomania, se você não sabe, é o nome de um distúrbio comportamental relacionado ao furto de pequenas quantias em dinheiro ou objetos sem muito valor.


"Sem dúvida, a criança que desenvolve esse hábito está sinalizando um momento de conflito, mas esse não é um motivo para levá-la imediatamente ao psicólogo. Os pais devem conversar com o filho para saber porque ele fez aquilo e explicar que esse tipo de atitude não é correta", diz Maria Regina Brecht Albertini, psicóloga em São Paulo.


"É importante informar aos pais que não há criança cleptomaníaca; esse tipo de doença decorre de distúrbios emocionais e se dá na adolescência e na fase adulta; podendo, é claro, ser a extensão de problemas mal resolvidos na infância", complementa Maria Regina.

Um meio para pedir mais atenção

A criança menor, de dois a quatro anos, ainda não tem maturidade para entender que não pode pegar, sem permissão, o que não é dela; nessa idade, a garotada não tem maldade ou malícia para querer se apoderar do que é do outro. Quando o faz, é porque acha o brinquedo atraente e porque gostaria de tê-lo.


Os pais devem ensinar ao filho que é errado pegar as coisas do amiguinho na hora em que perceber que a criança está com algo que não é dela. Porém, antes de tomar qualquer medida, tente investigar porque o objeto está ali. Pergunte a ele! Seu filho pode ter ganho um presentinho da professora ou mesmo de um amigo. Em caso de dúvida, cheque a informação na escola.


Dependendo da maturidade da criança - normalmente a partir dos cinco anos - o fato de levar para casa coisinhas que não pertencem a ela merece atenção, principalmente se começar a se tornar rotina. O garoto está, provavelmente, tentando substituir algo de que sente falta pelo objeto "furtado".


Numa conversa franca e atenta com ele, você terá condições de avaliar se o motivo do furto foi exclusivamente o desejo de possuir um objeto igual ao do amigo ou se há um distúrbio emocional desencadeando tal comportamento.


Chamar a atenção dos pais pode ser a causa. É bom deixar claro que nem sempre a carência de atenção é fruto da ausência dos pais; há crianças que precisam ser mais cuidadas do que outras e algumas encontram, nos pequenos delitos, a única forma de demonstrar essa necessidade.


Desprezar as preferências da criança em relação ao lanche que irá levar para a escola, ou proibí-la de palpitar na hora da compra do material, podem - entre outros motivos - levá-la a não resistir à tentação de pegar as coisinhas do colega de classe.


É óbvio que não é correto dar à criança tudo o que ela deseja e, mais relevante ainda, é preciso aprender a viver de acordo com as possibilidades financeiras da família. Porém há pais que assumem uma postura muito severa quando o assunto é dinheiro e fazem com que o filho se prive de determinadas vontades desnecessariamente.


Mesmo os maiorzinhos, até dez anos, não devem ser castigados por desejar e "surrupiar" aquilo que não é deles. Apesar de serem capazes de compreender que o que é dos outros não deve ser tocado podem, ainda, não ter aprendido a lidar com a frustração de não possuir certas coisas ou, quem sabe, estar com dificuldades para enfrentar certas emoções.


Mais uma vez, o caminho para resolver essa questão é ouvir o que a criança tem a dizer a respeito e explicar a ela que nem sempre conseguimos tudo o que queremos. Aproveite para deixar claro que você está sempre disposto a bater um papinho amigo.

Quando há diálogo, não existem segredos

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que se a criança precisou demonstrar suas necessidades levando para casa objetos que não são seus, ela está precisando de ajuda, pois não consegue se expressar de outra forma.


Significa, também, que faltou diálogo para que seu filho tivesse a oportunidade de falar sobre o dia-a-dia - na escola, no playground, na brincadeira com os amiguinhos. Nesses bate-papos, os pais se interam do universo da criança, que costuma dar sinais quando algo de novo está rondando sua cabecinha.


Uma vez que ela tenha pego algo que não é seu, precisa ouvir sobre o assunto, e perceber a gravidade desse ato. Respeite a maturidade de seu filhote e tome cuidado para não transformar o caso num drama (você já viu que ele merece atenção, mas não desespero).


"Para as crianças a partir dos sete anos, vale estabelecer uma pequena mesada que lhe permita comprar as bugigangas que deseja - doces, balas, salgadinhos, figurinhas. Isso evita que elas caiam na tentação de levar o que é do amiguinho", aconselha Maria Regina.


Se acontecer mais de uma vez, não entre em pânico: ouça o pequeno, converse e explique tudo mais uma vez. Assim, o sintoma tende a desaparecer. Caso a mania persista, peça a orientação de um psicólogo.


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