Quinta-feira, 28 de março de 2024
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O dono do mundo

Por Lucy Casolari *


Toda classe tem líderes naturais, alguns especialistas em aprontar, criar confusões e envolver os outros, transformando-os em fiéis seguidores. Lidar com eles é tarefa da escola e dos pais também!

Muitas vezes, a liderança já começa a despontar nos primeiros anos escolares. Há crianças que se destacam por sua acentuada dose de sedução e carisma, capazes de dobrar e enrolar professoras, até as mais experientes, com seus comentários sagazes, cheios de graça e propriedade. A reação dos colegas fica entre um misto de admiração e perplexidade, pois esses líderes, de alguma forma, expressam seus próprios sentimentos e percepções.


A sensibilidade do profissional que conduz o grupo é fundamental para canalizar, produtivamente, a energia das lideranças e administrar as relações entre seus alunos. Essa é a parte que compete, exclusivamente, à escola, pois sua principal responsabilidade é com o futuro. Crianças, que quando novinhas parecem tão sedutoras e interessantes, podem se transformar em jovens poderosos, arrogantes e sem nenhuma medida.

Como lidar com seu

Saber que seu filho faz sucesso na sala de aula, destacando-se por suas qualidades de sedução e carisma, enche de orgulho, sem dúvida, todo e qualquer pai. Afinal, esse pode vir a ser o diferencial dele, contar muitos pontos no desenvolvimento de uma carreira brilhante; o que convenhamos é um bom começo nesses tempos de alta competitividade.


Entretanto, há um cuidado especial que deve estar presente: a forma como seu filho utiliza esse talento, na escola e em outros ambientes de seu convívio. Em outras palavras, se ele está usando as habilidades de forma construtiva ou, simplesmente, diverte-se menosprezando e até afrontando todos os demais, sejam estes companheiros, professores ou funcionários. Esse comportamento negativo, sem dúvida, precisa ser trabalhado.


Nesse caso, a criança ou jovem necessita de parâmetros e referenciais para não resvalar para o lado da absoluta falta de educação, a mais elementar. Garotos que desrespeitam os adultos e seus próprios pares, só para "zoar", como eles dizem, precisam ser alertados, orientados e até firmemente reprimidos, se for o caso. Não é possível deixar passar em branco malcriações, grosserias, ou "gracinhas" exageradas, desagradáveis mesmo.


Se o alvo dessas gozações for um empregado da casa, do condomínio ou escola, você precisa chamar a atenção de seu filho veementemente, mostrando sua insatisfação e indignação com esse tipo de atitude. E, claro, o seu exemplo é o modelo do tratamento adequado às pessoas que nos prestam serviços e de quem, sob vários aspectos, dependemos.

Na sala de aula

As dificuldades de acompanhar determinadas matérias, a falta de empatia ou até implicância gratuita com algum professor fazem parte da vida escolar de qualquer aluno. Obstáculos que precisam ser transpostos, de maneiras variáveis, de acordo com a idade e a situação específica.


As chamadas lideranças negativas, entretanto, manipulam seus colegas de classe, formando movimentos contra os professores, ao invés de procurar um caminho para resolver seus problemas individuais. Em grupo, tornam-se muito fortes, capazes de desestabilizar o equilíbrio da sala de aula.


As escolas freqüentemente têm-se deparado com essas situações nos últimos anos. Entretanto, nem sempre têm conseguido resolver as questões de forma produtiva, pois se perdem entre o autoritarismo e a impotência, na tentativa de dar voz aos alunos e o, tão necessário, desenvolvimento da criticidade. Na prática, isso resulta em professores intimidados, sem autoridade e alunos que formam espécies de "gangues", atrapalhando o desenvolvimento e a aprendizagem de todos.

A responsabilidade dos pais

Para os pais há, também, grandes dificuldades ao administrar essas situações. Alguns defendem o filho, em qualquer caso, até mesmo quando o equívoco é total e flagrante. Outros, aparentemente, apoiam a escola, mas ficam tão deslumbrados com o carisma, sedução e esperteza do seu "líder", que acabam dando força a comportamentos inadequados.


Evidentemente, esses meninos e meninas tornam-se cada vez mais poderosos, irreverentes, agressivos e intolerantes. Pior ainda, porque é muito fácil ganharem o rótulo de bagunceiros, difícil de se desvencilhar. Não é possível defender a repressão pura e simples dessas lideranças, mas elas precisam ser trabalhadas no sentido da responsabilidade, que vem junto com o carisma.


Se seu filho tem mostrado características de líder, procure ajudá-lo a refletir sobre o assunto, mantenha-se próximo e aproveite as situações do dia-a-dia para conversar com ele. Filmes, novelas, noticiários, até mesmo, os reality shows trasnsformam-se em interessantes e produtivos papos. Lembre-se de que toda conversa implica em escutar, de verdade, o que o jovem tem para dizer. Os pais sabem disso, mas às vezes se esquecem e partem para longos discursos, no meio dos quais se entusiasmam enquanto os filhos dispersam-se completamente.

E os fiéis seguidores?

O outro lado da moeda forma-se por aqueles que simplesmente vão atrás dos líderes, acompanhando o movimento, sem questionamentos. A chamada maioria silenciosa representa a platéia e, logicamente, o aplauso para as irreverências e brincadeiras desagradáveis da minoria barulhenta, transformada em porta-voz do grupo. Talvez seja essa a razão de ganhar tanta força.


Se seu filho traz para casa queixas e questões a respeito das atitudes de seus colegas na classe, ajude-o a enxergar e perceber sua própria atuação. Reflita com ele sobre o que acontece e sobre suas reações e de outros amigos que pensam como ele. Não tenha dúvidas em procurar conversar com a escola sobre o assunto, pois os profissionais, que têm o grupo em mãos, saberão trabalhar adequadamente.


De mais atenção, certamente, precisam aqueles que se deslumbram com o comportamento indesejável dos líderes da bagunça, deixando-se manipular, ou pior ainda, intimidando-se por ameaças verbais ou físicas. Parecem sentir uma espécie de "atração fatal", envolvendo-se gratuitamente em todo tipo de confusão. Essa meninada precisa ser alertada para esse tipo de atitude pela escola e, certamente, pelos pais.


Costuma ter pouca eficiência voltar as baterias contra os líderes, pois estes exercem fascínio e são admirados por todos. Mais indicado e produtivo, sem dúvida, é refletir sobre as atitudes indesejáveis, claro, respeitando sua idade e nível de compreensão. Utilize para isso as situações corriqueiras do dia-a-dia e converse sempre com seu filho, não somente no momento em que estoura algum problema. Fuja de rótulos do tipo "Maria vai com as outras", sem personalidade, fracote, etc., pois isso pode acabar reforçando esse comportamento de "fiel seguidor". Acima de tudo, aproveite todas as oportunidades para incentivar a autonomia de seu filho e suas tentativas em se guiar pela própria cabeça e trilhar seu próprio caminho.



* Lucy Casolari é pedagoga e educadora


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