Quinta-feira, 18 de abril de 2024
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Ensino religioso, um assunto polêmico

Por Norma Leite Brandão *


O que está por trás dessa discussão: a preocupação com a espiritualidade ou a busca de soluções para o comportamento de crianças e jovens? Nesses tempos de grandes transformações pode parecer que o desenvolvimento dos valores compete somente à religião...

Muito se discute, hoje, sobre a procedência do ensino religioso nas escolas. As famílias se dividem: algumas não concordam e buscam instituições laicas; outras, preocupadas com os rumos do mundo, esperam que a formação religiosa dada na escola supra questões com as quais têm dificuldade de lidar.


Parece, no entanto, que todas esperam que a escola cultive alguns valores básicos ao ser humano. Será que os pais desejam parceiros para ajudar no desenvolvimento espiritual da criança ou procuram por profissionais que dêem conta de problemas que não conseguem resolver?

Uma visão mais ampla

O ensino religioso não deve tratar apenas os preceitos desta ou daquela religião. Deve tocar em aspectos essenciais à formação da criança e do adolescente: a percepção de si próprio, do outro, a convivência baseada na solidariedade, na justiça e na igualdade - aprender a viver com a diversidade, com tolerância e humildade.


Assim, mais importante do que cultivar princípios de determinada religião é preciso ampliar a visão dos alunos, para que percebam diferentes formas de crença e que as respeitem.


Falar de religião é, também, não ignorar assuntos que permeiam a vida e com os quais normalmente a maior parte das pessoas não sabe lidar: a doença, a morte, enfim, situações-limite a que todos estão sujeitos. É cultivar algo essencial no mundo moderno: a espiritualidade, a fé necessária para se prosseguir nos embates da vida.

A limitação das escolas

Se esses são aspectos reconhecidamente importantes no momento atual, é necessário saber que as escolas ainda enfrentam dificuldades para encontrar caminhos ao tratar do assunto.


Normalmente há um profissional encarregado da "disciplina" Religião, trabalhada em aulas de cinqüenta minutos. Dará ele conta de assunto tão amplo e complexo?


Trabalhar com a espiritualidade é assunto de todos e em qualquer área, o que significa preparo de seus educadores. Se a família busca a parceria, procura por algo consistente e que a ajude na formação integral de seus filhos, é importante verificar de que forma a instituição concretiza sua proposta; se esta permite que os alunos vivam, por meio de atos concretos, crenças essenciais.

Espiritualidade começa em casa

Assunto vasto e profundo, religião é algo pessoal e trata de escolhas, crenças e de valores básicos que começam em casa. Esperar que a escola dê conta de uma tarefa não cultivada na família é ilusão.


Ao tratar de tema tão amplo, a escola apenas tem o papel de complementar e socializar o que vem de casa.


Na era em que vivemos, onde as alterações são profundas e que o mundo apresenta-se, muitas vezes, assustador, parece ser necessário que a família reveja a forma como trabalha seus princípios. Isso vale tanto para as que não acreditam no ensino religioso, como para as demais. As primeiras costumam dizer: meu filho escolherá sua religião quando crescer. Bem, mas escolherá fundamentado em quê?


Para que escolhas sejam feitas é necessário que se viva a espiritualidade de alguma forma. O que foi colocado em seu lugar? Estarão os pais propiciando espaço e tempo para que haja reflexão sobre o assunto?


Em relação às famílias que acreditam na educação religiosa desde cedo, também há perguntas a serem feitas: de que forma vivem os preceitos da religião escolhida? Aparecem nas ações diárias? Pertencer a uma determinada religião não significa somente ser batizado, crismado. Não basta cumprir o dever de ir à missa ou ao culto... É vivê-la com coerência e determinação no cotidiano. É propiciar momentos em que se cultive a reflexão, em que se busque o silêncio e a meditação. É, no cotidiano e nas situações de exceção, ajudar seu filho a buscar respostas dentro de si próprio.


Esses parecem ser pré-requisitos importantes. Questões anteriores ao ensino religioso escolar. Num assunto tão complexo e pessoal, nenhum profissional substitui o que é papel da família. Quando muito, complementa, auxilia, ajuda a sedimentar.


Mas a tarefa primeira é sua e se ela não for cumprida com coerência, lucidez e exemplo, não há escola que consiga resgatar o que deveria ter sido feito, desde cedo, nessa área.


* Norma Leite Brandão é pedagoga e educadora.


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