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Limites começam no berço
Por Dr. Leonardo Posternak
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Desde bem cedo os bebês devem aprender, com você, até onde podem chegar. Não duvide: disciplina gera a estrutura e a segurança que seu filho vai carregar por toda a vida.
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Diz o ditado que "ser mãe é padecer no paraíso". Se isso está acontecendo com você, é hora de refletir sobre como anda a relação com seu filhote. Claro, ele é lindo e muito amado. Mas será que está levando você à loucura? Se a resposta for afirmativa, trate de resolver logo esse problema: está na hora de você estabelecer limites, que nada têm a ver com desamor.
Ao contrário do que muitos imaginam, bebezinhos não fazem manha. Mas são capazes de expressar seus desejos, alegrias e dissabores desde muito cedo. Você certamente conhece o que agrada a seu filho: uma brincadeira que normalmente o faz gargalhar pode gerar choro se for conduzida de forma diferente da habitual. Portanto, o bebê sabe perfeitamente expressar sua frustração! Acredite: à medida que ele cresce, vai se tornando cada vez mais sabido e vira um craque nos truques para chamar sua atenção.
O choro é o principal deles. Afinal, é a forma como ele consegue se expressar. Lembre-se sempre de que perfeição não existe. Pais e filhos aprendem, uns com os outros, como se relacionar. Se você tem certeza de que seu bebê está saudável, limpo e bem alimentado, não precisa correr desesperada para tirá-lo do berço assim que ele der um pequeno gemido. Agindo dessa forma, você estará tolhendo de seu filho o direito de se expressar, já que seu colo e seu carinho em tempo integral funcionam como um passaporte para a felicidade.
Certamente, não é preciso deixá-lo arrebentar os pulmões antes de atendê-lo, mas tenha calma - se conseguir - e estabeleça uma relação de tranqüilidade e confiança com ele. A mãe excessivamente aflita, que se antecipa a todos os desejos do filho, pode estar gerando um futuro pequeno tirano. O caso clássico é o da mãe que não consegue sequer ir ao banheiro sozinha.
Se seu filho já está convicto de que o choro mobiliza toda a família, está na hora de convencê-lo e ensiná-lo do contrário. Saiba, no entanto, que cada fase tem suas peculiaridades e devem ser conduzidas de acordo com as condições de percepção e entendimento da criança. E o mais importante: limites fincados sobre bases sólidas, razoáveis, trarão uma enorme segurança a seu pequeno. Ele não precisará testar seu amor a todo momento, pois certamente disso ele já está seguro.
Choro nem sempre significa desconforto
Para que tudo corra bem, nas primeiras semanas de vida o bebê precisa de um tratamento VIP: deve ser atendido imediatamente, sempre que chorar. Só assim você conseguirá estabelecer uma relação de confiança afetiva com ele.
À medida que os meses vão passando, porém, comece a ficar atenta. Saiba que o choro nem sempre significa dor, fome ou desconforto. Você nunca chorou de alegria? Pois com seu filhote acontece a mesma coisa. Às vezes ele se manifesta dessa forma - com o choro - por ser a única que conhece.
Fique de olho e aprenda a reconhecer as diversas emoções. Só seu coração de mãe saberá orientá-la nesse aprendizado. E, por favor, respeite, também, seus próprios limites: se o choro de seu bebê a deixa muito ansiosa, fique alguns momentos perto do berço, converse um pouco com ele - o som de sua voz pode operar milagres! - e então pegue-o no colo.
O bebê não é um tirano, os pais se deixam manipular
Toda criança nasce com um instinto de prazer muito desenvolvido em contrapartida a seu instinto de realidade, nulo, é claro. Se você se conscientizar disso - de que seu filho não tem a intenção racional de manipular os pais, até porque nem tem condições para tal -, será mais fácil lidar com a questão dos limites. Faça um exercício de imaginação: se você fosse um bebê, preferiria dormir sozinho, em seu berço, ou no colo da mamãe, quentinho, cheiroso, acolhedor? Essa pergunta dispensa resposta. E mostra que, se você não fincar o pé, seu filho desejará dormir em seus braços por muitos e muitos anos... Deixe-o perceber que é um ser independente que pode e deve, desde cedo, ocupar o próprio lugar no mundo. E não se preocupe com erros e acertos: você não tem obrigação de ser perfeita.
Uma mãe tranqüila, sem ansiedade, tem menos problemas para começar a impor limites. É capaz de fazê-lo até sem perceber. Mas uma mãe tensa, que dedica 100% das suas energias à criança, entra numa dinâmica familiar tão neurótica que acaba fazendo mal até mesmo ao bebê, que tudo percebe. Nunca esqueça que a mais perfeita das mães também tem direito a seus próprios momentos de prazer, sejam eles quais forem. Quando você está satisfeita, usufruindo de sua liberdade individual, consegue estabelecer uma relação muito mais saudável com a maternidade. Lembre-se, também, de que a vida dirá muitos "nãos" a seu filho; portanto, quanto mais cedo ele se habituar a ouvi-los, menos sofrerá no futuro. Acredite: adolescentes que são problemáticos não tiveram limites na infância.
* Dr. Leonardo Posternak é médico pediatra,
membro do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein.
Co-autor do livro
E Agora, o que Fazer? A Difícil Arte de Criar os Filhos, Editora Best Seller.
Autor de
O Direito a Verdade - Cartas Para Uma Criança, Editora Globo.