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Icterícia, sinal amarelo

Por Beatriz Camargo * em 07/01/2002


A doença do 'bebê amarelo' normalmente é simples, mas se agrava por falta de cuidados. Conheça outras causas desse problema, mais raras e perigosas

A palavra icterícia vem do grego íkteros, nome de um pássaro de plumagem amarela chamado verdelhão: o bebê fica com a pele amarelada mas, com um tratamento adequado, recupera-se rapidamente. No entanto, esse mal pode ser sinal de outras doenças graves, por isso merece sempre uma grande atenção.


A icterícia acontece porque o feto, para respirar dentro da barriga da mamãe, recebe o oxigênio através de hemáceas do sangue (glóbulos vermelhos); assim, precisa manter um grande estoque desses glóbulos. Quando o bebê nasce, começa a respirar diretamente pelo pulmão, portanto não precisa mais ter tantos glóbulos vermelhos e passa a destrui-los. Quando um glóbulo vermelho se "quebra", libera um pigmento chamado bilirrubina. O fígado é responsável pela metabolização desse pigmento e pela tarefa de mandá-lo para o duodeno. No recém-nascido, o fígado ainda está imaturo e nem sempre consegue "dar conta" do excesso de bilirrubina no corpo. O pigmento, então, fica na pele, dando aquela cor amarela ao seu filhote.


Essa é a icterícia fisiológica, a forma mais simples de icterícia. Ela se apresenta aproximadamente 24h depois do nascimento e é causada apenas por problemas naturais de adaptação do bebê à vida fora do útero da mãe: imaturidade do fígado e excesso de glóbulos vermelhos no sangue. Por isso é tão comum, atingindo 2/3 dos recém-nascidos.


A doença em geral pode ser dividida em cinco estágios, por ordem de aparecimento no corpo e pela sua intensidade:


1. cabeça;

2. tronco;

3. tronco e membros;

4. todos os membros;

5. palma da mão e planta do pé.


Quando a icterícia atinge o quinto estágio, o quadro é grave. Isso porque a bilirrubina já está invadindo a barreira entre o sangue e o cérebro da criança e entrando no seu sistema nervoso central. Significa perigo, com risco de surdez, retardo mental e até morte. Melhor prestar atenção!

Quando a icterícia é um sintoma

Há muitas doenças que ocasionam a destruição de hemáceas, o que resulta em icterícia. Uma dessas é a doença hemolítica do recém-nascido. Ela ocorre por incompatibilidade sangüínea, quando a mãe é Rh- e o recém-nascido é Rh+, ou quando a mãe tem sangue tipo O e o filho tipo A ou B: essa mãe, que transfere para o bebê anticorpos contra o fator Rh (ou contra o sangue do tipo A ou B), destruindo as hemáceas do filho. Como muitas hemáceas estarão sendo quebradas, a pele ficará com uma grande concentração de bilirrubina, caracterizando a icterícia. Se o caso for muito grave, a criança pode ficar anêmica devido à falta de glóbulos vermelhos no sangue.


Bom ressaltar que nem todo caso de incompatibilidade sangüínea leva à doença hemolítica do recém-nascido. Segundo o pediatra Eduardo Troster, diretor da CTI Pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, "20% dos bebês têm incompatibilidade com a mãe, mas uma porcentagem muito menor desenvolve problemas". Quando o caso é grave, os médicos realizam uma troca sangüínea.


Outra situação em que a icterícia se apresenta como sintoma de outras doenças é em infecções pré-natais. Quando a gestante não se previne contra doenças como sífilis, AIDS, herpes, rubéola e hepatite, o feto pode ser infectado. Essas doenças prejudicam o desenvolvimento intra-uterino, gerando uma série de complicações, entre elas a destruição dos glóbulos vermelhos. "Às vezes é possível tratar a criança depois do nascimento, mas normalmente o que nos resta é correr atrás do prejuízo", lamenta o Dr. Eduardo. O tratamento varia dependendo da doença, algumas mais graves, outras menos.

Causas mais raras

A atresia (ou entupimento) de vias biliares é uma doença de origem ainda em estudo, que aparece no recém-nascido e também se manifesta pela icterícia: nesse caso o sistema de escoamento do fígado (as vias biliares) não funciona. Assim, o fígado não consegue eliminar a bilirrubina e mandá-la para o intestino, pois perdeu seu canal de comunicação. A bilirrubina (e outras substâncias) se acumula no órgão, ocasionando uma espécie de cirrose biliar. Dr. Eduardo considera esse caso extremamente grave: "ele é responsável pela maior parte dos transplantes de fígado". É fácil perceber se o bebê está com atresia biliar: devido à falta de bilirrubina no duodeno - graças ao não-processamento desse pigmento pelo fígado - o cocô fica branco.


Outro caso, ainda mais raro, acontece quando o bebê nasce com deficiência de enzimas. O tratamento consiste em evitar alguns remédios que contenham substâncias ativadoras dessas enzimas pelo resto da vida.

O que fazer

Se você já está em casa e perceber que seu filho tem a pele amarelada, é melhor levá-lo ao pediatra, que fará uma avaliação completa: se está mamando, se o intestino está funcionando bem (já que é pelas fezes que a grande parte da bilirrubina é eliminada), entre outros. Se ele julgar necessário, recomendará a fototerapia, um tratamento à base de luz fluorescente. Se o caso for simples, o tratamento hospitalar nem será necessário e o seu filhote poderá ir para casa. "Fototerapia nunca é demais; a falta desse tratamento é que pode comprometer a saúde do recém-nascido", diz Dr. Eduardo.


Uma maneira mais precisa que a observação para indicar se a bilirrubina atingiu níveis perigosos no corpo é fazendo um teste do nível desse pigmento no sangue do bebê: quando a taxa exceder 20-25 mg de bilirrubina por decilitro, provavelmente já está afetando o sistema nervoso central. Diante dessa gravidade, os médicos realizam a troca sangüínea (exsangüíneo-transfusão), substituindo grande parte do sangue do bebê por outro compatível. Essa troca normalmente não traz complicações e o recém-nascido, ao longo das semanas, fará uma renovação das hemáceas espontaneamente. Essa medida de troca de sangue é realizada principalmente na icterícia por doença hemolítica.


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