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Meu filho não precisa mais de mim!

Por Carla Oliveira *


Um dia, os filhos crescem, tornam-se independentes e constituem sua própria família. Você está preparado para lidar com o ninho vazio?

A chegada do bebê na vida do casal provoca uma mudança enorme. A dedicação é total: eles se adaptam aos horários do pequeno, programam seus compromissos de acordo com as possibilidades dele, e até deixam de comprar coisas para si para poder dar ao filhote tudo o que há de melhor.


Os anos passam e a criança vai crescendo. As necessidades dela vão mudando e os pais estão sempre por perto para auxiliá-la no que for preciso. Porém, chega um momento em que essa "criança" já está bem grandinha para cuidar de si e quer aos poucos conquistar sua independência. Ocorre um novo impacto na vida do casal, que às vezes pode ser até maior do que aquele causado pelo nascimento do bebê.


Faculdade, amigos, festas, viagens, namoros, trabalhos... os filhos começam a ter vida própria e, como alguns pais costumam dizer, "passam em casa só para comer e dormir". É normal que os pais se sintam inseguros, mas eles têm de perceber que não são desnecessários na vida dos filhos, pelo contrário. Seu apoio é muito importante nesse momento crucial da vida dos jovens, em que eles começam a traçar seus próprios rumos.

Síndrome do ninho vazio?

Segundo Eliete Belfort Mattos, terapeuta de família e casal, presidente da Associação Paulista de Terapia Familiar, toda família tem seus ciclos vitais, como por exemplo: o casamento, o nascimento dos filhos, a adolescência e a fase adulta dos filhos. Esse momento em que os filhos crescem, se tornam independentes e deixam a casa dos pais pode ser chamado de ninho vazio e não "síndrome do ninho vazio", como se costuma dizer.


A maneira como os pais encaram esse momento varia conforme suas histórias pessoais e a construção das relações familiares ao longo do tempo. O casal pode ficar feliz e desfrutar a nova liberdade, acreditando que o crescimento implica em perdas e danos, mas pode também, em alguns casos se tornarem pessoas profundamente tristes. "Eles se perdem, sentem um vazio. Acham que estão sendo abandonados, e que os filhos não gostam mais deles", explica Eliete.


Esse ciclo acontece quando a mulher e o homem estão já com seus 45 ou 50 anos e têm de encarar os primeiros sinais de velhice, o que pode agravar o problema. A mulher sofre com o início da menopausa, que provoca tanto transformações físicas como psicológicas - afinal, ela está deixando de ser fértil. Já o homem se questiona quanto a sua virilidade e sente vontade de rejuvenescer, de provar que ainda tem o mesmo vigor de antes.


Tudo isso provoca uma mistura de sentimentos que pode prejudicar a relação do casal. "Apesar das mães ainda terem mais funções na criação dos filhos, os pais também sentem a mudança. Alguns casais mantêm um excesso de cuidados que não é próprio para a idade dos filhos e usam artifícios para chamar a atenção deles", ressalta Eliete. E podem criar dinâmicas relacionais que impeçam o pleno desenvolvimento dos membros da família, para manter a prole por perto, mesmo inconscientemente.


"Além de tudo isso, a ausência dos filhos faz com que marido e mulher voltem a olhar um para o outro. Às vezes não se reconhecem, como se perguntassem: onde está a pessoa com quem me casei? E eles não sabem como agir", ressalta a terapeuta. Muitas vezes, não existe mais atração física ou interesse pelo cônjuge. É necessário reconhecer as mudanças para dar continuidade ou não à relação conjugal.

A vida não acabou

"Se a pessoa está em um momento emocional bom e tem uma boa auto-estima, ela se recupera. Ela encara essa fase como transformação e não como perda", afirma Eliete. Afinal, a vida não acabou, está apenas recomeçando. Logo os filhos se casam e vêm os netinhos...


A situação fica difícil principalmente para as mulheres que fazem dos cuidados com os filhos e o marido o sentido principal de suas vidas. Outras mulheres que, mesmo não trabalhando fora, dedicam-se a si mesmas - fazem cursos, atividades físicas ou realizam algum trabalho voluntário - terão mais facilidade em encarar o afastamento dos filhos, pois preservam seu espaço como indivíduo.


O importante é perceber que os filhos não estão sendo ingratos, apenas querem começar a caminhar com suas próprias pernas, o que é absolutamente necessário e saudável. Os filhos, ainda que não precisem mais dos pais para lhes fazer comida, levar à escola e contar historinhas, sempre vão precisar do amor e do apoio incondicional dos pais. No entanto, se você sentir que precisa de ajuda para enfrentar essa fase, não hesite em pedir ajuda de um terapeuta.


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