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Violência dentro de casa

Por Julienne Gananian *


A violência doméstica ocorre por meio de agressões físicas ou verbais, desestruturando a família.

Assunto delicado e cercado por silêncio e medo, a violência dentro de casa existe em todas as classes sociais, culturas e níveis de educação. Porém, muitas famílias fecham os olhos, ignorando os comportamentos violentos ou o abuso de poder.


Além das ameaças e agressões físicas e sexuais, a violência também acontece de uma forma passiva ignorada, na maioria das vezes, por meio da palavra. "Geralmente as pessoas desconsideram este tipo de agressão. Mas ela também se mostra perversa e dolorosa, causando confusão e medo: ninguém bate em ninguém, mas sente-se o impacto como se fosse um murro" afirma a psicóloga de casais e famílias, Suzanna Amarante Levy. Nestes casos, frases como "você não sabe nada", "você é um inútil", "cale a boca" ou "faço isso para o seu bem" são utilizadas na maioria dos diálogos. A vítima sente-se inferior, desprezada e precisa de ajuda para perceber e não aceitar esta forma de relacionamento doentio.

Discussões, de vez em quando, são normais

Em uma família mais saudável, discussões e brigas também acontecem. Mas, além de não serem constantes, quando são agredidas as pessoas respondem, conversam ou brigam, sem tanto medo das conseqüências. "Faz parte da natureza do ser humano ser agressivo ou ficar com raiva. O problema reside em relacionamentos freqüentemente violentos, sem o respeito mútuo, desqualificando e desconsiderando o outro" explica Suzanna.


Em geral, a violência doméstica surge como um ruído, decorrente de algum problema não resolvido dentro daquela família. Muitas vezes, após um grande sofrimento, as pessoas preferem não falar sobre isso, por medo de se machucarem ainda mais, e acabam não exteriorizando suas inseguranças. As provocações, brigas e agressões surgem como a manifestação de um desespero sobre algo mal resolvido e se intensificam, desestruturando a família.

Crianças e mulheres: as maiores vítimas

"Hoje em dia algumas mulheres também agridem seus maridos, mas os homens têm vergonha de denunciar. Já ouvi casos de esposas que batem em seus companheiros com muita intensidade, chegando até a machucá-los enquanto eles dormem" conta Suzanna. Mas, apesar de alguns homens também sofrerem, as maiores vítimas ainda são as crianças e adolescentes.


Os dados são alarmantes: segundo a Sociedade Mundial de Vitimologia, 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas a algum tipo de violência doméstica. Elas apanham ou são humilhadas por seus maridos e muitas vezes não têm coragem de denunciar. O medo de que a justiça não cumpra o seu dever ou de que a família sofra ainda mais contribui para o silêncio.


No caso dos filhos, no ano de 2000 houve mais de 7000 queixas de crianças que sofreram agressão dentro de casa, segundo o Centro de Referência da Criança e do Adolescente. Alguns pais tentam justificar as agressões dizendo "meu filho é muito arteiro" ou "só dessa forma ele aprende". A psicóloga lembra que existem outras formas de chamar a atenção da criança, como dar bronca ou conversar, colocando limites sem violência.


Se não houver diálogo, mas só punições, a criança entende que também deve bater, agindo da mesma forma na escola, por exemplo. Quando cresce, tende a repetir este comportamento em sua família ou, o contrário, acaba se envolvendo em relacionamentos em que será vítima novamente.

Qual a solução?

Estimular o diálogo na família evita que os problemas sejam guardados e que a violência seja a única forma de relacionamento entre as pessoas. "A conversa diária, em que todos expõem os seus problemas, mostra-se a melhor solução para tratar da violência antes que ela se desenvolva. Com isso, aprende-se também a lidar com a dor que surge ao se falar sobre assuntos difíceis e tristes" afirma a psicóloga.


Em casos de violência física, maus tratos e humilhação, tanto sobre a criança como sobre qualquer outro membro da família, denuncie. Você estará evitando que o agressor continue agindo desta forma e permitindo que a vítima tenha uma vida digna e segura.


As denúncias contra qualquer ato de violência podem ser feitos para Disque Denúncia: 181 ou para o SOS criança 1407.


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