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Pais equilibrados, filhos bem educados
Por Maria Paola de Salvo
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Às vezes você se sente num dilema entre manter suas ordens e ceder às pressões, diante de tanta desobediência e rebeldia do seu filho? Saiba o que pensa a psicóloga Lídia Aratangy
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"Você não pode assistir TV, sem antes terminar de fazer a lição de casa!". Quantas vezes seu filho fez cara feia, se revoltou ou desobedeceu a ordens como essa?
A maioria dos pais sabe da necessidade de impor limites e regras às crianças. Porém, poucos estão certos quanto à melhor forma de colocá-los e de como agir diante dos "rebeldes" que, mais do que burlar as regras, parecem testar até onde vai a paciência dos pais.
Saiba que de nada adianta embarcar numa batalha ou quebra de braço sem fim com o seu filho. Isso só contribuirá para que você "perca a cabeça" e tome decisões ou atitudes impensadas e precipitadas. Isso pode lhe render alguns quilinhos a mais na consciência, ou um sentimento de culpa mais tarde. Deixar-se levar pelo cansaço ou pela raiva é o melhor caminho para ceder às pressões e vontades do seu pequeno chantagista, ou acabar por lançar mão da força física, artifício ineficaz e ultrapassado.
Equilíbrio e bom senso devem estar sempre presentes, não somente na hora de punir, como também quando for explicar e impor suas regras e ordens. Procure ser consistente e evite mudar de opinião, a despeito das pressões e reivindicações da criança. Além de contribuir para a boa educação do seu pequeno, essa medida reduz atritos e discussões desnecessárias.
Não deixe de criticar seu filho quando julgar necessário. Porém, tome o cuidado de "deixar claro que não aprovou a atitude da criança, mas que continua gostando dela mesmo assim", recomenda Lídia Aratangy, psicóloga em São Paulo. Leia, na entrevista a seguir, outras de suas recomendações:
Impor regras X ser liberal
Liberdade é uma questão de competência, não de posição ideológica. Mesmo o mais liberal dos pais tem regras que devem ser cumpridas. Caso contrário, a criança jamais poderia desenvolver suas próprias competências. Afinal, sem conhecer com clareza os limites não se aprende a ultrapassá-los. A diferença está entre impor regras sem explicações ("será assim porque sou seu pai e sei o que é melhor pra você"!) e explicá-las de forma clara ("você tem de escovar os dentes, senão eles ficarão com buraquinhos que doem").
Manter as regras X ceder a chantagens
Não tente competir com a criança. As regras têm de ser claras e as possíveis exceções têm de ser definidas para que não se transformem em precedentes. Nunca se deve ceder a chantagens. Para não perder a cabeça com as birras, fuja da encrenca ou olhe para outro lado. A menos que queira criar um chantagista e, conseqüentemente, arcar com as conseqüências.
Conforto material X incentivo ao consumo
Para muitos pais, garantir conforto material se traduz em mimos, que resultam em incentivos ao consumo. Importante é manter a coerência pelo exemplo que você dá a seu filho.
Castigo X penitência
O castigo faz parte do processo educativo. Não se trata de vingança nem de penitência. Mas tenha cuidado para não exagerar na dose. Por exemplo: não tem sentido proibir seu filho de ver televisão durante uma semana porque ele não comeu a verdura. Seja consistente nas suas exigências: foque no comportamento da criança, não no resultado dele. Isso significa que manter os cadernos em ordem e as lições em dia, por exemplo, devem ser o parâmetro, não a nota alcançada no boletim. Toda punição tem de ser aplicada imediatamente após a falta, não um mês depois ou "quando seu pai chegar".
Palmada X diálogo
Jamais apele para palmadas. Violência só gera violência. Uma criança que apanha aprende que a diferença de força física é um recurso válido para resolver uma pendenga. Isso despertará nela uma vontade de se vingar quando estiver mais crescida. As palmadas são o sinônimo da falta de recursos que emana da fragilidade e da dificuldade de lidar com a própria impotência diante da teimosia de uma criança que se recusa a obedecer. Ninguém acredita que com palmadas criará indivíduos íntegros, honestos que tenham auto-estima e sejam pessoas seguras, idôneas e responsáveis.
Críticas X auto-estima
O objetivo da crítica deve ser corrigir a criança e não descarregar raiva ou frustração. Nunca a critique em público, de maneira violenta ou com ironia - forma de agressividade que a criança sente, mas não compreende. Não use frases do tipo: "você nunca sabe onde pisa". Deixe claro que não aprovou a atitude do seu filho, mas que continua gostando dele mesmo assim.