Sexta-feira, 26 de abril de 2024 |
Boneca é coisa de menina?Estamos no século 21, mas muitas famílias ainda perpetuam os antigos padrões masculinos e femininos em seus lares. Este é um tema para pensar... |
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Um dia desses, um casal com dois filhos pequenos - de quatro e de seis anos - veio ao consultório para pedir uma orientação em relação a um pedido do seu filho menor, que tinha adorado um par de sapatos cor-de-rosa e queria comprá-lo de qualquer maneira. O pai, ao relatar o fato, disse que ficou muito constrangido na loja e ofereceu outras possibilidades que o seu filho não aceitou.
Dizia para Rodrigo, que sapatos cor-de-rosa eram de menina, apesar dele mesmo admitir que os achava muito bonitos. Esta situação deixou-o muito confuso, pois se considerava um pai moderno, sem preconceitos e não pretendia - com essa atitude - inibir a individualidade do filho; ao mesmo tempo, ficava muito preocupado com a reação dos amigos da escola, inclusive os mais velhos.
A partir desta colocação, procurei ponderar com os pais se uma atitude permissiva, nesse momento, realmente ajudaria o pequeno Rodrigo. Será que ele, com apenas quatro anos, teria condições de lidar com a pressão ou com a gozação dos amiguinhos da escola? Acho difícil. E eles próprios, teriam como administrar quaisquer comentários com tranqüilidade? Certamente os pais tiveram a sua formação!
Em termos de desenvolvimento emocional, as crianças de quatro anos começam a entender que existem diferenças entre meninos e meninas, e que os meninos querem se parecer com os seus pais, assim como as meninas adoram usar os sapatos de salto das mães. É preciso dar um tempo para que Rodrigo amadureça este processo de identificação. E preciso ter calma! Num outro momento - quem sabe - valha a pena voltar a conversar sobre a questão, a fim de redimensioná-la.
Acredito que não seja possível negarmos a influência das normas sociais e culturais em relação às diferenças de gênero masculino e feminino. Sabemos que, na nossa sociedade, as meninas podem vestir cor de rosa ou azul sem receber rótulo algum. É permitido a elas aprender balé, baseball, futebol ou basquete. Quanto aos meninos, ter aulas de balé ainda é muito complicado.
Pretendo, aqui, ampliar esta questão dos gêneros, para a qual não temos respostas prontas, certas ou erradas. Estamos nos transformando dia após dia.
Gênero é o comportamento construído do jeito de ser homem ou de ser mulher, e que é, como já disse, aprendido cultural e socialmente. Apesar das mudanças no status e na condição da mulher, muitas ainda exercem predominantemente um papel doméstico e por isso as meninas tenderão a imitá-las. O mesmo ocorre com os meninos e as tarefas dos pais.
Durante muitos séculos esses comportamentos eram tidos como "naturais" e não como fruto de aprendizagem. Até há pouco tempo, meninas só brincavam com bonecas e meninos brincavam com soldadinhos e carrinhos. Depois inventaram as "bonecas masculinas", na forma dos super-heróis.
Quantos pais não se lembram de terem brincado de casinha com panelinhas de todos os tamanhos e cores quando pequenos? Isso era um problema? O que observamos é que muitas famílias consideradas liberais e modernas, até hoje perpetuam os antigos padrões masculinos e femininos em seus lares, preferindo que seus filhos homens peguem uma bola para brincar, a ficarem ajudando a mãe a lavar a louça aos domingos.
Quanto à divisão das tarefas no lar, acredito que seja importante que os dois sexos desempenhem as mesmas obrigações adequadas à idade. Se o exemplo em casa não for esse, certamente será mais complicado conseguir a compreensão e a cooperação das crianças. O casal deve conversar sobre a importância dos modelos de homem (pai) e mulher (mãe).
Levando em consideração que nós, pais e educadores, desejamos adaptar os nossos filhos às regras da sociedade, não podemos de forma alguma, deixar de considerar todas essas variáveis. A questão não é nada simples. O que está ao nosso alcance é que podemos ajudá-los a se individualizar principalmente em relação aos valores morais e éticos, para que se tornem seres humanos solidários e preocupados com seus semelhantes, com seus parceiros sexuais, principalmente no que diz respeito à individualidade do homem e da mulher e para que neste mundo os dois sexos tenham igual cidadania.
Até breve!
* Monica C. Burg Mlynarz é psicóloga clínica com especialização em Psicologia Educacional e Terapia de Família.
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