Sexta-feira, 29 de março de 2024
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Abracadabra! Ou...a magia de Harry Potter!

Por Norma Leite Brandão *


O filme bate recordes de bilheteria e a tiragem de livros ultrapassa os 100 milhões. Afinal, que fórmula é essa que gerou esta febre?

Nunca é demais que se retome à questão da leitura, angústia dos pais, tortura dos filhos e desafio dos mestres. Pois nada disso aconteceu com os livros de Harry Potter! Edições esgotadas, filhos infernizando a vida da família, irmãos disputando o livro adquirido, expectativa em relação à próxima aventura a ser lançada, famílias inteiras reunidas para ouvir os episódios.


Até mesmo as tradicionais questões que emperram o ato de ler caíram por terra: o alto preço de lançamento e o volume significativo de texto. Todos se curvaram ao menino mágico, aparentemente indefeso, mas repleto de surpresas. Mais importante do que isso, todos reservaram um tempo de seu acelerado cotidiano para conhecer e se deliciar com as aventuras vividas pelo pequeno bruxo. Parece pouco? Mas não é. Num país em que a leitura ainda é realizada mais por obrigação do que por prazer, essa febre precisa ser vista como algo positivo. Independentemente de profundas análises sobre a qualidade literária do texto.


Sim, os livros de J.K. Rowling, em princípio, cumpriram perfeitamente sua principal função: laçar o leitor. E ingredientes não faltaram para isso, do cotidiano e o do imaginário de todos. Lições de bravura e heroísmo, honra, tolerância e amizade aliadas a mistérios, bruxarias e poções mágicas - tudo isso perfeitamente combinado à história, já tradicional nos contos de fadas, de um menino que desconhece sua origem, é criado por tios de forma desprezível e, aos onze anos, finalmente, descobre seu caminho.


Veja bem, onze anos... até a escolha da idade foi perfeita! Não é mais ou menos por essa época que os adolescentes fogem dos livros? Alguns antes, outros depois. De qualquer forma, a autora situou essa marca de idade para que tudo, absolutamente tudo se transformasse na vida de Harry!

Hogwarts: que delícia de escola!

Bem, mas a faixa etária do herói é apenas um dos itens a serem considerados. O leitor de Harry Potter, desde o primeiro volume da série, o que teve a missão de desencadear o fascínio, encontra-se num espaço bem familiar, uma escola (de bruxos, mas uma escola!) - local muito conhecido de crianças e jovens, propício ao contato com amigos e às artimanhas para burlar o proibido! O que pode haver de mais gostoso? Situações não faltam para isso.


As personagens desfilam com características específicas, tipos do cotidiano vivido pelos alunos: os amigos fiéis, os inimigos, a garota estudiosa, o medroso... Os professores! Ah! Os professores! Cada qual com seu perfil... as aulas chatas e as desafiadoras. Enfim, o espaço em que a ação se desenrola é de domínio de todos os ávidos leitores, de diferentes idades. Com a vantagem de lidar com um conteúdo pedagógico completamente inédito: a arte da magia! Com aulas práticas e teóricas.


Sapos, corujas, dragões e outros seres habitam Hogwarts, com seus lugares proibidos, escuros, mas sempre desvendados pela turma do barulho! Lá não falta nem a paixão pelo jogo, o Quadribol, esporte preferido dos feiticeiros, uma espécie de fusão entre o beisebol e o futebol americano, jogado com vassouras voadoras.

A saga contada em sete volumes

Se a temática produz interesse, esse fato se acentua no momento em que as histórias dos livros lançados acompanham o crescimento da personagem principal. A intenção é que os sete volumes planejados cubram o tempo de adolescência de Harry e, com isso, o leitor permaneça cativo. Uma novela, uma grande novela, pela qual todos esperam com expectativa.


A medida em que a personagem envelhece, as questões com que se defronta também vão mudando, questões típicas vividas pelos adolescentes. Um grande achado, quando pensamos que essa é uma fase difícil para os jovens, descolorida, carente de significado - um momento de suas vidas em que não sabem muito bem onde se situar. Encerram-se em si próprios, comunicam-se pouco com a família. Mas o interior de sua alma... Ah! É repleto de sonhos e fantasias! Pois a autora parece conhecê-los bem. Oferece-lhes um prato cheio de modelos com os quais possam se identificar.


Mas veja bem: são modelos especiais. Parecem ter tudo ao alcance das mãos com seus poderes provenientes de capas de invisibilidade, varinhas mágicas e vassouras voadoras. Quem não gostaria disso? A já decantada luta do bem contra o mal - que tem na figura de Voldemort, o vilão, a sua expressão máxima - é revivida com humor e leveza.


Esses elementos, somados a uma bela campanha de marketing, produziram um efeito devastador jamais imaginado pela própria autora, no início de seus escritos, desprezados por tantas editoras.

A eterna polêmica dos críticos

Se Harry Potter é unanimidade de vendas, o mesmo não se pode dizer quanto à crítica literária. Aqui há restrições. Dividem-se as opiniões. Os livros provocam polêmica. E isso é sempre bom. A realidade é que, com todas as qualidades da trama, a autora usa uma linguagem de muito acesso e que dá ao leitor extrema fluência. Traduzindo: não exige muito do interlocutor.


Devora-se a narrativa em três tempos. Estilo descompromissado e de fácil leitura.Quando se compara o texto ao de autores clássicos e brilhantes, como Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas, a diferença é gritante. A saga do feiticeiro está mais para entretenimento do que para literatura. No entanto, é importante ressaltar: bom, excelente entretenimento.


Em contrapartida, a obra tem um grande mérito: os leitores, à espera de novas aventuras, vão às livrarias em busca de obras com temáticas semelhantes e aí...Ah! Deparam-se com os grandes representantes desse gênero. Os mestres Roald Dahl, C.S.Lewis e J.R.R. Tolkien compõem a linha de frente desse time! A própria autora costuma citá-los como suas principais referências na criação da saga do bruxinho. Não é à toa que a famosa trilogia O Senhor dos Anéis, de Tolkien, escrito na década de 50, esteve esgotada, vende tanto no momento e será lançada em filme.

O caminho das pedras

Quando professores e pais insistem em perguntar sobre o verdadeiro caminho das pedras para a descoberta da leitura por crianças e jovens, costumamos responder que vale tudo. Qualquer coisa, no mundo moderno, que possua a mágica de retirar os filhos da frente da TV, do videogame é bem vinda e aplaudida. No caso de Harry Potter, algo mais ocorreu: muitos redescobriram a palavra escrita e - o que é mais importante - acreditaram ter fôlego para maiores leituras, para outros vôos, maiores e mais profundos. Inúmeras famílias recuperaram o antigo e construtivo hábito da leitura em voz alta. Só esses elementos já dariam à obra méritos suficientes.


Quando um fenômeno desse porte acontece, pouco importam as críticas de setores mais rígidos. O que vale é capitalizar todos esses ganhos para que a moda se transforme em hábito. O exercício de viajar por mundos desconhecidos, de construir sonhos, fantasias e, com isso, dar cor à vida. Isso parece ser o que a própria J.K.Rowling revela numa de suas entrevistas: "As crianças perguntam se acredito em mágicas...acredito em outro tipo de magia. Acredito naquilo que se pode criar com sua imaginação, em como o leitor encontra a imaginação do autor e cria um mundo completo dentro da cabeça. Esse é um processo de magia maravilhoso!"


* Norma Leite Brandão é pedagoga e educadora.


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