Sexta-feira, 19 de abril de 2024
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Sexo, quando falar

Por Tânia Zagury *


Nenhuma pergunta deve ficar sem reposta quando se trata do assunto sexo. A curiosidade das crianças a esse respeito começa em torno dos 5 anos de idade. Portanto, prepare-se para explicar, com simplicidade, tudo o que ela quiser saber.

Uma das grandes preocupações dos pais hoje, na "era da comunicação" - os jovens e as crianças parecem já "nascer sabendo"! -, é perceber qual o momento certo para abordar temas ligados ao esclarecimento sobre sexo. Alguns temem que, se começarem a falar sobre o assunto cedo demais, esses conhecimentos venham a provocar uma curiosidade que possa levar precocemente ao namoro ou à atividade sexual. Outros receiam deixar "passar a hora apropriada". Sem dúvida, este é um assunto delicado que deve ser tratado com muita segurança e clareza.

O primeiro ponto é saber qual é o momento "certo". As crianças nos dão, em geral, sinais de que essa hora chegou. Em torno de 5, 6 anos, é comum surgirem algumas perguntas a respeito. "Como eu nasci?", "De onde eu vim" costumam ser as primeiras. A melhor atitude dos pais é responder de imediato e com a maior espontaneidade. Aliás, a autenticidade é a melhor forma de estabelecer um diálogo verdadeiro e duradouro, que permita às crianças sentir-se seguras e satisfeitas em sua curiosidade. Dessa forma - e somente assim - é que voltarão a procurar os pais quando tiverem novas dúvidas e interesse a respeito do assunto.

Honestidade, sim. Prolixidade, não!

Pais que se esquivam, que dão respostas evasivas ou que se mostram incomodados, envergonhados ou zangados com a abordagem dos filhos costumam afastá-los desse tipo de conversa em outras ocasiões. No futuro, provavelmente, as crianças procurarão outras pessoas ou os próprios amiguinhos para saber mais a respeito.


Outro aspecto muito importante é responder apenas e tão-somente àquilo que as crianças perguntaram. E sempre de forma direta e sem rodeios. "Você veio da barriguinha da mamãe" é uma forma adequada, simples e afetuosa de responder à questão "De onde eu vim?". Pare por aí. Se novas questões se seguirem a essa, então, sim, responda. Não é preciso sentar e dar uma aula de anatomia e reprodução humana aos 6 anos de idade ou a cada questão que as crianças levantarem.

Educação sexual começa em casa

A cada pergunta devemos agir da mesma forma: satisfazendo as necessidades de nossos filhos à medida que surgem e de acordo com as possibilidades de compreensão de cada faixa etária. Sem ansiedade e sem exageros. O saber não leva à precocidade. O saber com segurança e naturalidade faz com que as crianças assimilem aquele conhecimento e sigam adiante, satisfeitas. À medida que crescerem, os temas deverão ser abordados de forma mais completa e profunda.


Essa deve ser a forma de agir durante toda a infância. Entretanto, ao chegar à puberdade, caso a criança não apresente aos pais dúvidas ou não demonstre interesse no assunto, então é hora de nós agirmos e tomarmos a iniciativa. Isso porque, provavelmente, ela está se informando com outras pessoas. E é sempre melhor que os pais façam esse trabalho, já que conhecem seus filhos como ninguém e porque lhes têm tanto amor que seguramente, ainda que de forma intuitiva, saberão trabalhar melhor os conceitos sobre sexualidade. Além disso, cada família tem uma orientação e, portanto, cabe aos pais passar aos filhos esse seu modo de ver o mundo e o sexo. Os filhos podem aceitar ou não, mas, em princípio, esses serão parâmetros importantes para eles. Servirão, ao menos, de base para o início de um pensamento próprio a respeito.

Quando dar o primeiro passo

Se, portanto, em torno de 10 a 12 anos aproximadamente, a criança, que já começa a apresentar modificações corporais importantes, não demonstrar interesse em saber mais sobre seu corpo, cabe aos pais iniciar o diálogo.

Às meninas é importante que sejam levadas informações sobre a menarca (primeira menstruação): "o que é, como ocorre, por quê, para quê", como se proteger, como fazer sua higiene pessoal, etc. Essas informações, assim como o significado da menstruação, devem ser passadas de forma objetiva, simples e positiva. É importante que ela fique sabendo que menstruar significa, em última análise também, a possibilidade de engravidar. Saber como se dá esse fenômeno é fundamental para que não fique com idéias deturpadas a respeito.

Aos meninos devem ser explicados os fatos ligados à polução noturna (ereção espontânea, que ocorre geralmente enquanto dormem, seguida de ejaculação). Saber sobre esses fatos e seu significado alivia muito os jovens, que costumam se sentir confusos, culpados ou envergonhados ao perceber o que ocorreu.

Contracepção e doenças transmissíveis

É preciso falar também sobre masturbação, fenômeno que aumenta consideravelmente na puberdade e na adolescência, para evitar culpas, medos e mitos a respeito. É incrível, mas muitos hoje ainda acreditam que a masturbação aumenta o peito nos meninos, piora a acne, faz crescer pêlos nas mãos e outras bobagens semelhantes, mas que muito contribuem para a insegurança emocional do adolescente.


Outros assuntos que não devem ser esquecidos são os relativos à contracepção e às doenças sexualmente transmissíveis. Devemos enfocar os limites do namoro, do "ficar" e, principalmente, a responsabilidade de cada jovem sobre sua vida sexual. Esse tipo de abordagem pode evitar muitos dissabores futuros tanto para os jovens quanto para seus pais.

Caso não se sintam à vontade para tocar nesses pontos ou ainda nos casos em que os jovens rejeitem esse tipo de conversa, os pais podem procurar livros sobre o tema. Hoje existem muitos e bons autores que abordam a sexualidade na adolescência de forma adequada e honesta. Cabe, entretanto, aos pais a escolha da literatura, para que estejam seguros de que as informações veiculadas estão de acordo com o que desejam passar a eles sobre o assunto.


Em resumo, o importante é que os pais não fujam a seu papel de educadores e orientadores dos filhos, seja qual for o assunto em questão.



* Tânia Zagury é filósofa, mestre em Educação, professora adjunta da UFRJ, autora dos livros Sem Padecer no Paraíso, Educar sem Culpa, O Adolescente por Ele Mesmo, Rampa e Encurtando a Adolescência, entre outros.


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